quarta-feira, 4 de julho de 2012

Falência da Universidade Privada

Antes de entrar na Universidade estudei doze anos.

Tive que realizar o exame obrigatório da 4ª classe do ensino primário. Fiquei dispensado de realizar o exame do 5º ano do liceu e o exame do 7º ano do ensino secudário. Fui contudo obrigado a realizar dois conjuntos de exame no propedêutico, para por fim  conseguir entrar no curso de engenharia electrotécnica da Universidade do Porto.

Fui obrigado a cumprir cinco anos de frequência de dezenas de cadeiras, tendo obrigatoriamente de realizar testes ou exames finais para que ao fim de dezassete longos anos conseguisse obter finalmente o meu grau académico de licenciado.

Mais importante do que o canudo foi a preparação académica obtida, que me permitiu enfrentar diversos desafios profissionais ao longo de quase trinta anos.

Sempre considerei que esses anos investidos na minha educação foram fundamentais para formar o meu carácter e a minha capacidade de aprendizagem de novos conhecimentos, mas a licenciatura, para mim, representava unicamente a certificação desse meu esforço e o reconhecimento dos meus conhecimentos adquiridos.

Ao longo dos anos fui percebendo que a entrada dos privados na educação superior transformou a UNIVERSIDADE num negócio, onde o mais importante não era a aquisição de conhecimentos mas a aquisição de um canudo. Assim, habituei-me a não só perguntar qual o grau académico dos profissionais com quem trabalhei, mas também onde e em que condições esse grau foi obtido. Tive mesmo que ter mais cuidado em avaliar os conhecimentos desses profissionais antes de lhes reconhecer o mérito do seu grau académico.

Esta estória de realizar uma licenciatura condensada num ano, onde possivelmente o aluno quase não terá realizado exames e onde existiu um conjunto de equivalências discutíveis, acabou totalmente com a credibilidade da quase totalidade das universidades privadas portuguesas.

Quer os antigos alunos, quer os actuais e futuros alunos destas universidades, ficarão sempre com o ónus de terem obtido os seus canudos  de uma forma exageradamente facilitada. Pior que a credibilidade política do governante envolvido  ficou a credibilidade da universidade privada.

Mas existe um facto político que deverá ser tido em conta.

O anterior Primeiro-Ministro José Sócrates foi atacado ferozmente por ter alegadamente realizado um exame de inglês técnico a um domingo. Pelos visto não teria sido necessário realizar esse exame, mas unicamente ter pedido a “equivalência” dos seus conhecimentos.

Neste caso um dos seus mais fortes atacantes, conseguiu o milagre de obter uma licenciatura num tempo recorde. E este não é o único, nem no governo, nem nos partidos que o suportam, nem no mundo dos políticos. Nada disto seria grave se não tivesse sido utilizado para enfraquecer o anterior governo, criando a oportunidade para a queda do governo e a substituição das suas políticas por outras.  

9 comentários:

  1. Dito por Narana Coissoró (Professor na Instituição em causa)
    “Para mim não é normal, nem é concebível”, afirmou ainda Coissoró àquela rádio. “Há pelo menos umas boas centenas de pessoas que têm um percurso profissional óptimo e que não têm um curso universitário”, acrescentou.

    Se fossem assim, argumentou o académico, “muitos jornalistas, que escrevem dia a dia sobre a política portuguesa, que sabem muito sobre a política portuguesa, sobre o sistema político português, podiam imediatamente pedir um diploma, sem ir às aulas, sem fazer testes”.

    Depois de ter estado matriculado em quatro cursos, Miguel Relvas pediu admissão à Universidade Lusófona Setembro de 2006 e concluiu o curso de Ciência Política e Relações Internacionais em Outubro do ano seguinte.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro António Ferreira

      O politólogo Professor Universitário Adelino Maltez num programa da SIC Notícias definiu este escandaloso caso dum ministro dum governo,que se pretende credível,ter obtido uma licenciatura de 3 anos e 36 disciplinas efectuando exames só 4 dessas disciplinas e sendo-lhe concedido o diploma ao fim dum ano,como o protótipo dum caso embora lícito,mas revelador da mais completa falta de ética.

      Cumprimentos
      Miguel Fontes

      Eliminar
    2. Narana Coissoró foi coerente e afirmou simplesmente o que qualquer pessoa com coluna vertebral pensa sobre este assunto.

      Como é que este governo pode pedir rigor na Educação e depois permitir esta palhaçada? Como é que este governo obriga crianças a realizarem os exames do 4º ano de escolarieadade (não bastaria a avaliação dos seus professores), e permite esta palhaçada A um MATULÃO que andou a arrastar-se por quatro cursos durante décadas, tendo conseguido obter um resultado tangencial NUMA CADEIRA.

      Para isso um universidade ridícula permitiu a passagem sem exame a TRINTA E DUAS cadeiras.

      E mais uma vez digo, que este não é caso único na política pelo que deveriam TODOS esses políticos deixarem de utilizar o seu título académico.

      Eliminar
    3. Relativamente à Universidade Lusófona esta deveria ser alvo imediato de uma auditoria para avaliar os critérios como estão ser atribuídos os seus graus académicos.

      Eliminar
  2. Há uma questão que ninguém colocou até a data: quais os custos que a queda do governo anterior gerou (nas pessoas, familias e empresas), e o que se poderia ter poupado se tivessem criado um governo de transição. Afinal o PEC4 teria saído mais barato que o programa da troika, e dado mais tempo e condição para a mudança, ou não?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro JACN

      A "fome" de Poder do PSD,apoiado descaradamente por um Presidente da República,que nunca conseguiu engolir a bofetada dada pela maioria dos eleitores Portugueses ao conceder-lhe apenas 25% dos votos,percentagem que só pode ter uma interpretação,reconhecer que tal figura não soube exercer o seu magistério no primeiro mandato com a isenção que se lhe exige.
      Depois desta sumaríssima introdução,caro JACN,recordo-lhe que logo após a reprovação do PEC IV e consequente queda do governo de Sócrates,os juros da Dívida Pública dispararam (números redondos de 6,5% para 9,5%),falhando assim estrondosamente na sua previsão "A sacerdotiza Relvas",que como todos devem estar recordados afirmara que a queda do governo se tornara necessária para Portugal voltar a ganhar a confiança dos mercados.
      Obviamente que o PEC IV de imediato não teria causado tal abalo na economia das famílias e das empresas (os juros ter-se-iam mantido,eventualmente,numa subida lenta),pois não teriamos dado aos especuladores da banca internacional a indicação da nossa debilidade.
      Recordo que Passos Coelho nos debates sobre o PEC IV afirmou que as medidas de austeridade preconizadas nesse PEC,eram insuficientes e como tal o PSD votava contra a sua aprovação.
      Recordo também,que pouco tempo depois desta afirmação Passos Coelho durante a campanha eleitoral não fez outra coisa que não fosse defender a não subida de vários impostos,IRS,IRC, IVA,etc.
      Como poderá concluir,Passos é possuidor do dogma da verdade e da coerência.
      Perceberá agora, caro JACN, porque razões NUNCA seria possível um governo de transição.
      A Direita ultra-liberal,representada pelo PSD e CDS com a máscara de total hipocrisia e fingida preocupação pelo estado das contas públicas,sôfrega pelo Poder e acossada pela ganância dos seus "jobs",pouco ou mesmo nada se preocupou com as repercussões imediatas,mais que previsíveis dos mercados.O importante era a tomada do Poder.
      Miguéis de Vasconcelos sempre existiram e irão continuar a existir.

      Cumprimentos
      Miguel Fontes

      Eliminar
    2. O Miguel respondeu muito bem, e concordo que resumidamente todo o modo como foi conduzido este processo só prejudicou o país e os portugueses, tendo sido os únicos beneficiados o Presidente da República e os políticos que formam o actual governo.

      Passado um ano da tomada de posse destes governantes é bem visível o ERRO HISTÓRICO, que foi realizado.

      Eliminar
  3. Gostaria de acrescentar para que se recorde e se interiorize as consequências e as responsabilidades daqueles que tudo fizeram para fazer cair o governo de Sócrates,que os Orçamentos de 2010 e 2011,assim como os PEC´s I,II e III só foram aprovados com o aval do PSD.
    Como bem nos recordamos,a crise já se começara a manifestar sobre a nossa economia a partir do ano de 2009.
    Então como interpretar os votos favoráveis do PSD à aprovação daqueles orçamentos e dos diferentes PAC´s?
    E como interpretar a omissão no discurso de recondução de Cavaco Silva, quanto à verdadeira paternidade da crise financeira,que atingiu toda a Europa e à qual Portugal nunca poderia ficar imune,dada a sempre enorme dependência da sua economia face à europeia?
    Ou será que a memória curta de muitos comentadores e economistas,já esqueceu a velha máxima que diz "Quando a economia europeia apanha uma gripe a portuguesa apanha uma broncopneumonia"?

    Miguel Fontes

    ResponderEliminar
  4. Num post que rascunhei, em 2008, a que dei o pomposo titulo "Educação e (para a)Comunicação" refletia sobre a nossa discapacidade para lidar com o "ruído" provocado pelo excesso de informação. Assim permita que transcreva um pequeno trecho "... Um dos problemas com que a sociedade dos media se debate reside no elevado volume de informação, que não consegue processar e que maioritariamente não tem interesse. Assim, a escola deve fornecer as competências necessárias, para que o aluno seja capaz de fazer a selecção e tratamento adequado da informação que recebe, conseguindo organizá-la."
    Vem isto a propósito de um anormal número de noticias que ultimamente têm sido publicadas e que tem mobilizado a nossa atenção, que simultaneamente podem estar a "desviar" de assuntos como o "colossal" desvio verificado nas contas publicas, esse sim um tema que nos deve obrigar a refletir! Isto sem deixar de considerar pertinente o tema em discussão.

    ResponderEliminar