A
atual reforma do Sistema Educativo apresenta-nos uma nova maneira de “ver
curricular” dos diferentes agentes que servem a educação.
Tratando-se
de reformas, sejam elas de que natureza for, elas supõem sempre mudanças. Neste
caso particular, pressupõem mudanças ligadas ao desenvolvimento do currículo que
vão desde a redefinição dos fundamentos e orientações curriculares até à
determinação de questões da escola, professores e alunos. Neste sentido eis que
nos surgem, as atividades extra
curriculares já há alguns anos instaladas no sistema educativo português, mais
concretamente ao nível do 1.º Ciclo do Ensino Básico, que continuam no mesmo
patamar da sua implementação, isto é , de mal a pior. Este tipo de atividades
de frequência , não obrigatória, são encaradas por muitos como uma forma de “ encher” o tempo dos alunos. Muito trabalho é levado a
sério pelos colegas que lecionam estas aulas, mas que em nada são reconhecidos.
Trabalho mal renumerado e vistos como aqueles que servem apenas e só para entreter
os meninos.
Eis que mergulhamos noutro
patamar, as Câmaras Municipais. Cada
Câmara tem autonomia para fazer o que bem lhe apetece na distribuição destes
serviços. Começemos pela contratação dos professores. Assim, ora contrata os professores (
com um dito e pomposo concurso público, em que por ironia do destino, são
sempre contratadas as mesmas pessoas), ora deixa nas mãos de particulares este tipo de serviços... eis que novamente
surge outra questão que se prende com
financiamentos. As Câmaras recebem do Ministério uma verba e porque será
que o que pagam aos professores fica
muito aquém do desejado? Afinal, para onde vai o restante dinheiro? Porque será que cada Câmara pode
pagar o quer? E de novo...para onde vai esse dinheiro?
E quanto ao contrato
efetuado... Porque será que os ditos recibos verdes que eticamente e
politicamente não deveriam existir ( imagem passada pelos atuais governantes) ainda
são a forma de contrato em muitas Câmaras do nosso país? Mas afinal, o recibo
verde existe nos funcionários públicos? Mais uma contradição do nosso sistema
político! Ou seja, o governo é o seu próprio inimigo.
Outra questão, quais os
critérios de seleção dos professores? Quais as habilitações desejadas para um
candidato concorrer? Temo em pensar que no geral seja o que acontece numa Câmara
vizinha no que concerne aos critérios de seleção : “ é licenciado na área a que
se candidata? Ah! então não estamos interessados!”. Dá-se preferência a quem não tem habilitações para exercer o cargo, pois assim paga-se ainda
menos...é o vale tudo...Nos dias que correm todos têm competências académicas para assumir qualquer profissão
seja ela de que natureza científica se tratar. Vivemos na era do amigo Relvas. O
sistema é uma espécie de país de 5.º mundo e que cada vez faz mais sentido aquilo que o
governo se prepara para implementar do 1.º ciclo ao 2.º ciclo, a figura do professor de monodocência ( um
serve todos os deuses) . Mas, é para aqui que
caminhamos, o especialista capaz de exercer tudo.
Autonomia , palavra moderna
no sistema e por muitos defendida. Afinal o que significa este termo? Será cada
local ser capaz de se munir daquilo que mais satisfaça as suas necessidades ,
com a maior exigência possível de forma a atingir o melhor que se poder ou
ao invés satisfazer as necessidades do amigo do amigo?
Gostaria que com este texto
que os colegas que trabalham nas atividades extra curriculares nos façam chegar
os seus depoimentos pois assim será uma
partilha mais enriquecedora.
Pretende-se, assim, dar voz a
quem nestes moldes exerce a sua profissão e voz a estas atividades, esquecidas
por uns e inconvenientes e abafadas por outros.
Autonomia? Talvez
sim...Talvez não!