A pequena polémica ocorrida no Blog Marco 2009 entre José Carlos Pereira e José Mota (
aqui,
aqui e
aqui) sobre o investimento concelhio na educação, que coincidiu com a polémica nacional sobre o encerramento das escolas com menos de 21 alunos, deixou-me curioso ao ponto de rever os acontecimentos que acompanharam a aprovação das cartas educativas, em especial no nosso concelho.
Nestas alturas defendem-se todos os interesses, sejam os dos professores, sejam os dos presidentes da junta, sejam os dos pais e muito pouco dos principais interessados, os alunos.
No Marco existiram duas reuniões da AM importantes para o caso. A primeira, em 24 de Fevereiro de 2007, onde se assistiu à lamentável má preparação da reunião, se percebeu que a Carta pouco tinha sido debatida e muito naturalmente foi reprovada.
Para a segunda reunião, em 20 Julho de 2007, já existiu um debate prévio um pouco mais sério e a maioria do executivo percebeu que tinha que ter outra atitude, pelo que a segunda versão da Carta Educativa foi votada favoravelmente.
Mas será que o tema foi bem tratado e teremos a melhor Carta Educativa para o concelho? Penso que não, e porque discutiu-se tudo menos o essencial. A única intervenção em que se registou algo positivo para a discussão foi de Zita Monteiro ao dizer que "não ser possível continuar a ter escolas com menos de quatro salas, onde se ministra mais do que um ano lectivo numa sala". Tudo o resto foi quase sempre muito fraco.
O importante seria discutir-se e perceber porque é que o abandono escolar em alguns escolas do concelho ultrapassava os 20% e que 60% da população não tinha mais do que o 1º ciclo e só uns escassos 3,6% tinham obtido formação superior (fonte censos 2001).
Bastavam esses dados para que os deputados percebessem que tinham que realizar uma verdadeira "revolução" no concelho. Hoje ao lermos os números do desemprego percebemos que infelizmente esta revolução tardou e os maus resultados estão ai para o demonstrar.
O que é que na minha opinião e na dos responsáveis do ME está mal? O mundo mudou, a educação também e não basta colocar uma professora a ensinar a ler e escrever em cada freguesia do país para que esteja assegurado o futuro de cada um de nós. Num aspecto eu, JCP, José Mota e Zita Monteiro estaremos de acordo, o modelo dever ser "um ano lectivo numa sala". Assim se considerarmos que numa sala poderemos ter cerca de 24 alunos, e com quatro salas vamos ter pelo menos escolas de 98 alunos. Afinal Paredes tem razão ao escolher escolas de 100 alunos.
Pessoalmente considero que será esta uma situação de excepção, pois para se poder ter uma escola a sério é necessário mais do que isso, e Cristina Vieira conseguiu a promessa de uma razoável escola para Soalhães: "um Centro Escolar com 8 salas, 1 refeitório, 1 auditório, 1 biblioteca/mediateca, 1 centro de Informática e um Gimnodesportivo". Mas agora estamos a falar de escolas para 200 alunos.
Procurei a taxa de natalidade do concelho no último censos, o número de habitantes nas 31 freguesias, fui procurar hoje quantas escolas EB1 existem e em meia hora cheguei a algumas conclusões: O concelho tem pelo menos 20 escolas a mais e muitas freguesias não tem habitantes que cheguem para ter uma verdadeira escola.
Mas se em dois ou três mandatos fossem conseguidas essas escolas iguais aquela que a Cristina Vieira sonha para Soalhães e uma boa rede de transporte escolar para os pequenos Marcoenses não estariamos a assegurar um futuro melhor para todos? Claro que sim. O que impede então dar-se este passo?
Primeiro vontade política e para isso tinham-se que ultrapassar três problemas:
Primeiro, a ignorância. Muitos dos deputados estão na AM para se levantarem quando o seu líder lhe diz e a maior parte dos Presidentes de Junta são escolhidos mais pela sua capacidade de recolher votos do que pela capacidade de conseguirem ter uma visão estratégica para a sua freguesia. Por isso evito critica-los e até compreendo algumas tristes intervenções que realizam nas AM. Neste debate só destaco uma intervenção bem demonstrativa do que lá se passou. "A diferença não tem a ver com a distância, mas com a freguesia onde se localiza".
Segundo, o "bairrismo". Não foram só os Presidentes da Junta que com ou sem argumentos lutaram por ter uma escola aberta na sua freguesia. Alguns deputados chegaram a esquecer-se que foram eleitos pelos Marcoenses, e não pelas pessoas da sua freguesia de origem.
Terceiro, a "partidarite". Este documento deveria ser estruturante, pelo que merecia um consenso e um debate alargado, realista, tecnicamente capaz e que seguisse as orientações do já tinha sido estabelecido pelo ME, não deixando de representar a Visão do que se pretende para a Educação no nosso concelho.
Depois o que é preciso para realizar essa "Revolução"? Muitos milhões de Euros? Não.
O que é necessário é um bom plano, e tal como outras obras que são necessário para o concelho, muito bom senso e capacidade de negociação.
Manuel Moreira conseguirá realizar isso? Não acredito. Tem um ou outro bom elemento na sua equipa, tal como o é José Mota, mas um executivo precisa de liderança, visão, objectivos e uma estratégia. É igual a uma equipa de futebol onde não bastam alguns bons jogadores, é preciso sobretudo um excelente treinador para se ganhar campeonatos.
Mas quem neste tema me deixou uma boa notícia foi Manuel Moreira quando disse que a Carta "pode ser revista ao fim de cinco anos".