terça-feira, 20 de novembro de 2012

Elites

Com todo o respeito pelo colega médico estomatologista Dr. José Mário Martins e sem qualquer intenção preconcebida de plágio, decidi colocar na blogosfera marcuense, um seu artigo publicado na revista da Ordem dos Médicos, extremamente pertinente e assertivo como poucos. Intitula-se 

ELITES
Num tempo e num Mundo onde, para lá das ideologias, teimavam em impor-se “ideias” e “terceiras vias”, em que o primado da “Polis” se viu preterido em favor do “pragmatismo”, o conceito de elite soava a estranho, se não mesmo ofensivo. Nesse mesmo tempo em que se conseguiram alcandorar aos píncaros do Poder uma casta de políticos que termina a sua licenciatura depois dos 30 anos, por vezes ao domingo, outras com mais de 30 equivalências, compreende-se que desconheçam o significado daquela palavra, como de muitas outras palavras! Hoje, a malfadada “Crise” anda na boca de todos e é a culpada de tudo. Porém, convinha que nos interrogássemos acerca de como chegamos até aqui, para tentarmos perceber como podemos sair desta situação que, longe de ser uma “culpa” ou uma consequência dos “PIGS”, se prova, agora que a China e o Brasil parecem estar a começar a sentir o seu “perfume”, ser de dimensão mundial. Pois, mas dizem-me que sou um “Velho do Restelo”, que não vejo que a Alemanha vai “de vento em popa” e que os especuladores até aceitam emprestar-lhe dinheiro a juros negativos! Recordo, para quem já se não lembra, que o “Tigre Celta”, essa economia “pujante” que era a Irlanda está, presentemente, na situação que todos conhecemos. Aqui chegados, convém recordar a alegoria do salva-vidas do Titanic. Se, após o acidente, só tivesse restado um único salva-vidas, com certeza todos os náufragos teriam nadado até ele e tê-lo-iam empurrado para o fundo e ninguém se teria salvado. O mesmo acontecerá à Europa, se não perceber que é este o seu dilema, neste delicado momento histórico. E, uma vez aqui, voltamos ao tema: - Porque chegamos até aqui, e o que têm as elites a ver com o assunto? Rob Riemen resumiu, num magnífico ensaio intitulado “O Eterno Retorno do Fascismo”, as causas (e também as consequências…) da atual situação. Permito-me transcrever uma parte que, na minha opinião, faz a quintessência do diagnóstico: “O fascismo contemporâneo resulta, mais uma vez, de partidos políticos que renunciaram à sua tradição intelectual, de intelectuais que cultivaram o niilismo complacente, de universidades que já não dignas desse nome, da ganância do mundo dos negócios e de mass media que preferem ser ventríloquos do público em vez de o seu espelho crítico. São estas elites corrompidas que alimentam o vazio espiritual para uma nova expansão do fascismo”.
Dos partidos de matriz social-democrata e democrata-cristã, que esqueceram a ou desprezaram a sua matriz social para se tornarem em defensores do ultraliberalismo, dos intelectuais niilistas às universidades, que se demitiram de ensinar e formar para a Vida, todos estão nesta longa lista de demissionários das próprias responsabilidades.
Face a este desatino das ideias, o Mundo avança em sobressalto. Da especulação nos mercados financeiros até à crise dos produtos alimentares, passando pela delicada questão do asilo do Sr. Assange, “isto” move-se. Mover, move-se, não sabemos é para onde. Eu temo que, se não formos lestos a mudar de rumo, caminhemos para o abismo.

Grato,
João Valdoleiros

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