sexta-feira, 11 de março de 2011

E parvo não sou

Na véspera da geração, que vai pagar os desgovernos dos vários políticos que estiveram no poder nestas últimas décadas, o Governo anuncia mais medidas de austeridade.

Cortes nas pensões públicas e privadas acima de 1500 euros mensais, redução na despesa com medicamentos, racionalização da rede escolar, redução da despesa com beneficios sociais de natureza não contributiva, redução de custos no sector empresarial do Estado e redução do investimento público são algumas das medidas para reduzir a despesa do Estado, pode-se ler aqui e aqui.

As transferências para as autarquias e regiões autónimas também vão ser alvo de cortes.

Haverá redução e limitação dos benefícios e deduções fiscais em IRC e IRS e os produtos a taxas reduzidas passam a taxa normal e serão actualizados impostos específicos sobre o consumo.

Estas medidas serão do contentamento de muitos sectores da política europeia, nomeadamente daqueles próximos do PSD, e até poderão ter sido sugeridas por alguns dos mais poderosos políticos europeus que hoje estão reunidos em Bruxelas.

O PSD não concorda, aqui, e ainda não sei o que pensam aqueles que prefeririam a entrada do FMI em Portugal. Muito menos percebo quais as medidas que estes esperariam que fossem realizadas.

Não sei qual será a reacção da "Geração à Rasca" que vai para as ruas amanhã. Uma geração que tem o meu apoio, por ser a geração dos meus filhos mais velhos, por eu sentir que todos nós lhe estamos a deixar uma sociedade desequilibrada e que eu espero que se torne mais interventiva politicamente pois está em causa o seu futuro.

Espero que esta geração tenham a clareza e a inteligência de perceber o que está em jogo e que não se deixe levar em demagogias dos políticos do costume.

Eu no meu pragmastismo considero que é importante todos percebermos que temos que cortar a sério na despesa. Não é só pedir corte nos benefícios dos outros mas aceitar que muitos dos nossos "direitos adquiridos" terão que ser revistos. Como sociedade temos que produzir mais e gastar menos. Temos que defender um sistema mais sustentável. O Estado tem de ser mais "magro" e cortar nas "suas clientelas".

Se não fizermos isso hoje e rápido, por iniciativa própria, em breve seremos obrigados a realizar medidas bem mais duras porque já existem poucos que estejam dispostos a financiar o nosso modo de vida excessivamente consumista. Estas medidas anunciadas hoje poderão parecer prejudiciais para muitos, mas na minha opinião não o deveriam ser para estes jovens que doutro modo irão herdar um país extremamente endividado, com enormes encargos financeiros dos emprêstimos necessários para se pagar os hábitos consumistas da geração de hoje.

Espero que este jovens lutem para que os "poderosos" de hoje se limitem a gastar o que têm e que deixem de endividar as próximas gerações. Que só gastem o dinheiro que dispõem e que não continuem a comprometer o futuro das gerações vindouras.

Que estes políticos actuais parem com as "suas mordomias" e percebam que não se pode andar de Audi  A6 com motorista privativo, quando os nossos jovens licenciados não arranjam emprego. Espero que os nossos políticos acabem com a acumulação de várias reformas quando os nossos jovens não conseguem obter uma casa ou constituir uma família. Espero que acabem as festas, os jantares e as comemorações quando os nossos filhos desesperam para poder contribuir com o seu trabalho por um país melhor. Espero que se acabem com os "direitos adquiridos" por esta classe política enquanto existam tantas remunerações e salários miseráveis.

No meio disto tudo fico é curioso em saber quais seriam as medidas que o PSD apresentaria se fosse  Governo. Quais seriam as medidas que o actual Presidente da República tomaria se a sua responsabilidade fosse governar.

Seriam muito diferentes ou tem alguma receita milagrosa para dum momento para o outro equilibrar as contas públicas sem cortes na despesa ou sem aumentos nos impostos?

Se tem essa receita, utilizem-na no Marco, porque agora com estes novos cortes nas transferências do Estado, Manuel Moreira vai precisar de ajuda mais do que nunca. 

Eu não sou parvo. Acredito que estes jovens também não o são e que não se vão deixar utilizar por um qualquer político que nada fez na vida além de ser "político".

E até amanhã.

2 comentários:

  1. Os jovens da intitulada "Geração á rasca" vão fazer manifestações em várias cidades de Portugal e, também, noutras capitais europeias, em frente ás Embaixadas portuguesas, de acordo com o JN de hoje; repito, em frente ás Embaixadas de Portugal, logo, como se o problema fosse, só, português.
    Isto merece-me uma reflexão, daquelas que posso exprimir, sem que, amanhã, me chamem "nomes feios".
    Sabe a "Geração á rasca" que foi o modelo capitalista neo-liberal, existente desde 1980,que criou o modelo de fugaz prospreridade no qual cresceram, com um ensino que não qualificava, com o estimulo ao consumo, com um paradigma de sucesso baseado na competição quase fraticida, que criou esta estado de coisas ?
    Sabe a "Geração á rasca" que as Associações Patronais, os Sindicatos, os "fazedores de opiniões" os continuam a enganar, incentivando-os a exigir aquilo que o tal sistema, onde as gerações anteriores viveram e os privilegidos prosperaram, já não pode dar : o emprego e trabalho para toda a vida ?
    Sim, a precariedade é a regra, não a execepção; o trabalho dependente tenderá a ser substituído por cada vez mais prestações de serviços. Mas isso é o fruto do sistema que permitiu que os pais (como eu...) da dita "geração rasca", comprassem casas, carros, se endividassem e lhes transmitisem essa "pesada herança" cultural.
    Corro o risco de ser considerado "reaccionário", mas o que coloca, verdadeiramente, esta geração "á rasca" é o facto dos pais, dos professores, dos dirigentes sindicais, dos dirigentes patronais, dos lideres de opinião, enfim dos fazedores de opinião, lhes continuarem a dizer que existe o que há muito já acabou : o emprego dependente, fixo e permanente e todos os paradigmas e mitos culturais anexos.
    Tenho 54 anos, vivi a adolescência e juventude vendo e admirando outros "rascas" : os "hippies", que propunham um outro mundo, sem regras ou com outras novas, baseadas no amor livre e em fazer amor, não guerra (logo, em coisa e ideias diferentes das antigas); daqueles que eram presos, torturados, perdiam empregos e famílias, para lutarem por uma OUTRA ordem económica e social diferente e, por isso, eram realistas pedindo coisas impossíveis, mas estruturalmente diferentes das existentes.
    Hoje, doi-me que a "geração á rasca" queira o refúgio do passado, peça aquilo que que o capitalismo neo-liberal já destruiu e, embora seja a geração mais qualificada de sempre, não tenha a capacidade de reivindicar SOLUÇÕES NOVAS, uma nova ordem económica e social, mas queira, sim, salvaguardar a aparentemente cómoda ordem moribunda, aquela onde os seus pais enganadoramente viveram, exigindo aquilo que o sistema já matou (o tal trabalho para a vida toda, certo e permanente).
    Doi-me, a mim que ainda hoje luto, no dia a dia, pela dignidade do meu trabalho, ver que esta geração está a gastar energia, que podia ser criativa, centrando-se na manutenção de modelos que o sistema (que os icentiva), já "assassinou". Porque não propôr outros ?
    Confesso : aplaudiria manifestações que, junto aos edifícios que representam em Lisboa, Bruxelas, Estrasburgo, etc, o sistemna que usou e descartou este modelo de sociedade, exprimissem o seu descontentamento e apresentaassem propostas para o futuro (os radicais do Maio de 68 , em Paris, fizeram isso, tal como os de Tianamem tal como os da Líbia, Egipto e Tunísia de hoje).
    É que a crise não é portuguesa e parece que anda tudo distraído, quando o "novo mundo" parece renascer no Magreb, bem aqui ao lado, onde quem vive bem pior do que nós tem coragem de arriscar a "vida estável" em nome de soluções futuras e não na manutenção de respostas do passado, bem mais cómodas .
    Tudo o que não seja isso, parece-me um exercício estéril, mediático ou, talvez, bem manipulado, pelos "suspeitos do costume...

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  2. Da "Geração á rasca" retenho imagens concretas e claras, porque corporizadas em coisas e pessoas que vi (e vivi) recentemente :
    - Um jovem, num "workshop", em Évora, em Junho, sobre empreendorismo, cuja mesa moderei, que, ao ouvir falar de sistemas de incentivo para a criação do próprio emprego, para jovens, dizia "Mas eu não quero criar o meu emprego ou ser empresário, quero é saber QUEM VAI RESOLVER o meu problema de emprego"...(logo, estava a "demitir-se" de ser ele próprio a resolver o seu problema...)
    - Um jovem a quem os pais compraram um carro (como símbolo de alguma coisa...), que, morando em Vila Franca de Xira, dizia que tinha de ir na sua própria viatura para Lisboa, trabalhar ou estudar (não sei...), pois não tinha transportes públicos que o servissem (isto num local onde, de 20 em 20 minutos, há comboios urbanos para 3 linhas de acesso a Lisboa !!!)
    - Um jovem tardio, já com 30 e poucos anos, morando na área metropolitana do Porto, em cuja cidade estudou e onde, hoje, é gerente de uma empresa, que confessa que NUNCA (!!!), na sua vida, andou de transportes públicos (por sinal, na zona de Portugal que há mais de 10 anos tem a melhor rede de transportes urnanos do País, que chega a 40 Km do centro do Porto...)
    - Uma jovem, ainda na passada 4ª feira), que, no Expresso que me trouxe do Porto ao Sul do País, dizia que estava num estágio profissional e tem aproveitado os escassos meses de salário para comprar um carro e "meter-se" (entenda-se comprar, não arrendar...) numa casa, isto embora não soubesse onde se iria desenrorrolar a sua vida profissional futura.
    Bom, parece-me que a geração "á racsca" deve contestar e manifestar-se, mas, também, deve reflectir sobre a falta de capacidade, que evidenciam, de terem uma ideia de sociedade para o futuro , porque só reivindicam as "seguranças" laborais e familiares do passado e os respectivos modelos de comportamento social e económico !
    Devem ser alertados para mudar de paradigmas de trabalho,de emprego e, sobretudo, de civilidade e isso cabe, tambem, aos Partidos Políticos.
    Senão, as direitas inteligentes, de Passos Coelho e Paulo Portas, fácilmente recrutarão os "á rasca" (e na Europa existem exemplos, como a consolidação das direitas nacionalistas).

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