terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dias atlânticos

É quando está tudo tranquilo que mais acontece no Marco. E é também por estes dias que se ouvem as coisas mais incríveis ditas com a mais completa naturalidade. Duas pérolas de dois presidentes de junta marcoenses, curiosamente ambos do mesmo partido, numa espécie de silly season natalícia:

Primeiro, numa conversa animada em que até nem ia envolver a política, mas em que fui reconhecido por pertencer a essa tenebrosa organização que é o PS, lá ouvi que esse era sem dúvida um grande defeito e eu justifiquei que não me envergonhava pertencer a um partido de pessoas que lutaram contra a ditadura e que preferia isso a pertencer a outro com ex-fascistas envergonhados. Reacção: "mas que grande argumento...".

Segunda pérola, um presidente de junta de uma grande freguesia do Marco ouve um lamento de um responsável de uma organização do campo social que a Câmara do Marco teria contribuído com 400 mil euros para um centro social de uma freguesia mais pequena enquanto o da sua freguesia só teria recebido 100 mil. Obviamente ouviu-se logo o reparo: "então, se a junta e a câmara são da mesma cor, não há razão para esta grande freguesia receber menos dinheiro e a junta deveria pressionar a autarquia no sentido de haver pelo menos uma equidade". Resposta do presidente da junta: "não se deve misturar a política com estes assuntos...".
Mais tarde, o mesmo presidente de junta, depois de declarar-se impotente para pressionar o executivo, haveria de justificar a vitória nas eleições de 2009, declarando que o povo da freguesia votou "em quem mais trabalha".

4 comentários:

  1. Ei pá!Isso é que foi meter água.
    Uns,meteram-na,porque realmente continuam como fascistas envergonhados e sem coragem para assumir publicamente a defesa dos seus ideais políticos.
    Pertencem à espécime dos camaleões,que como todos sabem,mudam facilmente de cor,adaptando-se às novas condições ambientais.
    Será bom recordar-lhes,pois memória curta é o que mais há por aí,que o tal partido tenebroso,o P.S.,contribuiu,e muito,para acabar com o medo de falar livremente,explicitar publicamente as ideias de cada um - a tal Liberdade de Expressão e Pensamento - que só os Homens Livres defendem.
    Outros,meteram-na,porque nem repararam no ridículo das suas posições,revelando publicamente,que se satisfazem com a política da subserviência,do chapéu na mão,no mendigar um direito,que afinal assiste às populações das suas autarquias,o tratamento em equidade de benefícios financeiros,não obrigatoriamente para este,ou aquele fim,mas sim no global e respeitando a paridade entre pares.

    Miguel Fontes

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  2. No Estado Novo, regime político que durou quase cinquenta anos, iniciado com o levantamento militar de 28 de Maio de 1926, promoveu modificações no seio dos municípios que merecem atenção.

    A reforma do Código Administrativo (1936-1940) elaborado por Marcelo Caetano foi uma das grandes reformas que tiveram lugar neste período.

    Esta reforma insistiu na centralização esvaziando de poder as estruturas municipais.

    Os presidentes de Câmara e regedores de freguesias passaram a ser nomeados pelo poder central. As autarquias estavam sujeitas a apertada tutela administrativa e não dispunham de receitas próprias. As autarquias locais eram
    financiadas por subsídios e comparticipações concedidas pelo poder central, sem obediência rigorosa a qualquer critério de distribuição, em que o presidente de Câmara assumia um papel de súbdito em relação à política imposta pelo Governo. De tal forma que os executivos municipais estavam limitados,assim, a exercer apenas a função de controlo, fiscalizando o cumprimento de normas definidas centralmente. A maior ou menor eficácia da sua acção dependia da capacidade em romper, por intermédio de influências pessoais, a paralisia da burocracia estatal.

    O município foi então o local de cruzamento da Administração Autárquica com a administração periférica do Estado, corporizado no presidente de Câmara, em que o centro, procurando controlar a periferia, lhe impunha as suas concepções.

    (A Governação nas Autarquias Locais, de João Bilhim)

    Este é um extracto que demonstra que o espírito dos nossos presidentes da junta remonta ao antigo regime, na realidade o Jaime não lhes devia ter chamado Presidentes da Junta, mas sim de REGEDORES.

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  3. Senhor Jorge

    Segundo o Dicionário Universal da Texto Editora,o significado da palavra "regedor",reza assim:
    - Indíviduo,que representa na freguesia,o presidente da Câmara Municipal e tem FUNÇÔES POLICIAIS.
    Literalmente falando,tal já não é possível,no que concerne ao exercício efectivo do poder policial,que acabou entretanto substituido,em alguns casos,pelo uso da prática delatória,tão do agrado dos agentes do Poder.
    Já em relação à sua interacção com o poder autárquico municipal,tudo se resume a uma atitude coloquial,em que um fala(manda) e o outro escuta(obedece) - dizem que,para bem das suas populações.

    Um Marcoense

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