sábado, 27 de agosto de 2011

A turma do funcionalismo

Merece a pena lermos esta notícia do i intitulada “35 anos de democracia, 20 ministros das Finanças. A turma do funcionalismo”, para entendermos uma das principais razões porque existe um peso tão grande do Estado em Portugal.

Claro que esta estória se repete em muitas das Democracias Ocidentais, não sendo problema exclusivo dos Portugueses.

A notícia do i explica que “a esmagadora maioria nunca conheceu outra realidade senão a da carreira docente e o casulo quente e doce da administração pública, empresas e instituições do Estado. Praticamente todos marcados por uma experiência de grau ZERO no funcionamento de uma empresa privada, praticamente todos marcados por uma visão de funcionalismo público”.

Afirma-se também que esta é “uma tradição que tem o seu santo patrono naquele ilustre professor de Santa Comba Dão”, opinião que eu partilho.

Eu sempre me preocupei que a experiência da grande maioria dos nossos principais dirigentes (quando existe) tenha sido obtida à sombra do "Estado" (*), dando-lhes uma visão cooperativista do sistema existindo até a Utopia que este "Estado" se consegue suportar a ele próprio. Grandes discussões que já tive com muitos desses “funcionários” que vivendo dentro desta realidade tem óbvia dificuldade de perceber que esta “máquina” tem de ser alimentada. Esta hipotética máquina de movimento perpétuo, tal como as suas congéneres da Física violam as mais básicas leis.

Claro que os políticos descobriram que poderiam simular este “movimento perpétuo” com um défice público que se tem vindo a manter há décadas, atravessando governos de várias cores políticas.

Interessante é que quando decidem cortar o alimento da “máquina” ficam admirados por esta começar a parar.

Este governo, pelo menos até agora, limitou-se a repetir a receita, não se preocupando com o que se passa fora desta “máquina” e exigindo até esforços ainda maiores aos Portugueses para que esta Utopia continue a funcionar.

O i termina recordando que “temos sido governados por professores e funcionários públicos”. “Não estamos afinal tão longe do espírito que animava o sonho socialista e as economias centralizadas, onde estava tudo seguro, protegido, garantido, pelos séculos dos séculos”.

(*) Quando escrevo aqui "Estado", não me refiro só aos funcionários públicos, que são também vítimas do sistema, ou aos organismos e empresas públicas. Refiro-me também, e principalmente, às Empresas Privadas que vivem à sombra do Orçamento Geral do Estado.

1 comentário:

  1. A leitura deste artigo do jornal o "I",colocado no blogue pelo Jorge Valdoleiros,faz-me lembrar aquela velha estória dos mestres-escolas do antigamente(muitas vezes pessoas,que tinham feito a sua 4ª classe,ou até mesmo só a 3ª classe,da antiga instrução primária),que não sendo diplomados,nem licenciados por quaisquer universidades,conseguiam transmitir aos seus alunos,breves,mas correctas noções da Língua Portuguesa,da Aritmética,até da História do nosso Portugal,preparando-os para enfrentar os problemas da vida real,tantas vezes à frente de pequenas indústrias,de pequenos comércios,de toda a sorte de actividades.
    Hoje,com todo o facilitismo na Educação,saem anualmente das nossas universidades,verdadeiras fornadas de licenciados,notoriamente incapazes e impreparados,para enfrentarem as agruras duma vida profissional,como o faziam os seus avós(os tais alunos dos mestres-escolas).
    Por isso,aqueles que se conseguem instalar numa carreira da função pública (administrativa local,regional ou central),ou na docência pública,acabam por renovar a turma do funcionalismo,sem que tenham necessidade de lutar dia a dia,ombro a ombro,com os seus pares, na luta por uma sobrevivência,onde só alguns conseguem pelo seu mérito alcançar o êxito.
    Meu Pai educou-me de modo a que cedo,muito cedo na vida,aprendesse a dar o devido valor ao dinheiro.Confesso,que na altura sentia que estava a dar-me uma educação espartana(aos 21 anos,ainda estudante universitário,recordo,meu pai dava-me uma mensalidade de 1.000 escudos,tendo que pagar o aluguer do quarto onde vivia,os transportes para as aulas,as folhas de apontamentos,as sebentas,e as refeições).
    Obrigava-me a gerir a fabulosa quantia ao tostão.
    Quando,por vezes,bem aflito,teso como um carapau seco,o abordava,pedindo-lhe que me antecipasse uma parte da mensalidade,respondia secamente,ainda não estamos no fim do mês.
    Cresci,fiz-me Homem,também me licenciei na profissão dos meus sonhos,casei,fui pai várias vezes,educador firme e determinado,mas confesso,não consegui ser tão espartano como meu Pai,embora os tempos não fossem fáceis.
    Consegui sim,com muito orgulho,educar os meus filhos para as agruras da vida,preparando-os para aquela luta,que só se encontra fora da turma do funcionalismo e onde só se alcança o êxito por mérito próprio.

    Miguel Fontes

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