Mas não são só estes congressistas que não tem noção do que estão a votar, na maior parte das votações existem eleitores que não sabem em quem estão a votar.
Em Portugal existem eleições diferentes, para cargos políticos diferentes e com processos de eleição diferentes.
No caso da Presidência da República, temos o único caso em que todos os portugueses, com capacidade de voto, podem votar no candidato da sua escolha. Caso este obtenha a maioria dos votos ou seja o mais votado na segunda volta será eleito para ocupar esse importante cargo de grande responsabilidade política. Qualquer impedimento do eleito obriga a nova eleição.
Já nas eleições para as Câmaras Municipais vota-se numa lista. O primeiro lugar da lista mais votada ocupará o lugar de Presidente da Câmara, mas se existir qualquer impedimento deste eleito o eleito seguinte assumirá a presidência. Esta pequena diferença é importante e demonstra que na realidade não se está a votar num candidato, mas numa lista de candidatos. Métodos semelhantes registam-se para outras eleições do poder local.
A Presidência da Assembleia da República não é eleita directamente pelos eleitores, sendo da responsabilidade dos deputados eleitos para esse órgão a escolha, entre os seus membros, do seu presidente. Pedro Passos Coelho nas últimas eleições não tinha a noção deste facto e “candidatou” Fernando Nobre para esse lugar antes de conhecer os resultados das eleições gerais!
Mas onde alguns portugueses não têm a menor noção em quem estão a votar é nas eleições para Assembleia da República.
Primeiro existe a ideia que se vota no presidente do partido que cada um de nós escolhe, o que demonstra a maior prova de ignorância. Os portugueses votam na lista de candidatos desse partido pelo distrito (ou círculo eleitoral) onde cada um tem direito de voto. Assim, e mesmo no caso do presidente do partido da sua escolha concorrer às eleições, só alguns dos eleitores daquele partido votariam nesse candidato.
Eu, não me recordo de ter alguma vez votado num presidente de qualquer partido.
Interessante é se nós perguntarmos a muitos simpatizantes dos vários partidos em quem eles irão votar a resposta invariavelmente é no presidente do partido do qual são simpatizantes.
Depois existe a ideia que o presidente do partido mais votado será necessariamente o Primeiro-Ministro, outra ideia totalmente errada. A decisão de quem será o Primeiro-Ministro é do Presidente da República, após consulta dos partidos, e sendo importante que este consiga obter uma maioria que o suporte, mas não é condição obrigatória. Importante é que obtenha os votos suficientes para conseguir a aprovação das suas políticas, nomeadamente a aprovação do Orçamento Geral do Estado.
Assim não fico admirado quando leio, ou ouço alguns, disparates sobre em quem alegadamente se votou. Este facto, vindo donde vem ainda mais me preocupa pela ignorância de alguns que acreditam que sabem mais do que os outros.
Pior é que a propagação da ideia que existe sempre um único responsável por todas estas eleições e por arrasto para todos os erros depois cometidos, iliba todos aqueles que vão votando livremente nas decisões que vão sendo tomadas.
Assim chego ao segundo grande erro que assisti no congresso do PSD deste fim-de-semana.
Muitos subiram à tribuna para criticar duramente as políticas seguidas por José Sócrates, em especial no segundo mandato, outros simpatizantes do PSD continuam a vociferar por todos os lados contra as políticas seguidas pelo antigo Primeiro-ministro, mas uns e outros não tem a noção que foi necessário o voto dos deputados do PSD na Assembleia da República para que essas políticas tão criticadas agora fossem aprovadas.
Em Portugal, não só os congressistas do PSD não tinham noção em que estavam a votar, mas ainda mais importantes é que os deputados da última legislatura do PSD também não tinham noção em que políticas é que estavam a votar quando permitiram viabilizar o último governo do partido socialista, os vários orçamentos gerais do estado e três PEC’s.
Pelo que posso concluir que os deputados do PSD não sabiam o que estavam a votar na Assembleia da República.
Com o titulo "A doença fatal vista no congresso do PSD" , de Pedro Tadeu, o DN publica um interessante artigo. Onde no espaço de minutos se passa de uma posição para o seu oposto.
ResponderEliminarSobre eleições permita este comentário. Um referendo para ser considerado "válido" é necessário que pelo menos 50% dos eleitores inscritos votem, para a eleição do PR, por exemplo, tal regra não se verifica, isto é, mesmo que a maioria dos eleitores se abstenha é eleito o candidato com mais de 50% de votos.
A doença fatal vista no congresso do PSD, por Pedro Tadeu no DN
EliminarAcoisa passou como um momento ligeiro do congresso do PSD. Deu direito, nos telejornais, a uma referência de menos de dois minutos e, na imprensa do dia seguinte, a alguns parágrafos inócuos. Para quem teve a paciência de acompanhar os diretos nos canais de notícias, atravessando uma penosa floresta de irrelevâncias com três dias, o caso suscitou outro panorama: a visão de um herbicida a matar folhas ainda verdes que encobriam uma doença terrível, espalhada pelo terreno e pelos troncos.
A JSD pôs à votação uma moção que propunha, entre outras novidades estatutárias, que todo o Conselho Nacional, a Comissão Política e o Conselho de Jurisdição do partido passassem a ser eleitos diretamente pelos militantes e não pelos delegados do congresso. Posta em votação, a moção obteve uma maioria favorável.
Há um momento de pânico entre os organizadores do conclave, sentados lá nas mesas do palco que dominava a sala mais pequena do Pavilhão Atlântico. Passos Coelho, com o seu ar simpático, desce ao palanque para dizer que duvida de que o Congresso tenha "decidido conscientemente". Pros-segue e jura que "o Congresso deixou assim de eleger os órgãos nacionais". Conclui: "Era isso que estava na proposta, sabem?..."
Com o chefe a impor tal retórica e tais dúvidas, lá se tratou de proceder a nova votação, de admissibilidade estranha, por os votantes não terem percebido a moção, disse-se...
Afinal, não era bem assim porque à segunda, mesmo depois dos avisos de Passos Coelho, 250 delegados repetiram o voto "sim". Porém, 262, apenas mais 12, deram o "não" e o líder respirou de alívio.
Qual é a doença terrível que vejo nisto tudo? A de que os delegados do PSD não sabem o que andam a votar? Não. Que não leem ou não compreendem as moções? Não. Que o espírito democrático do comando do PSD é limitado às conveniências políticas do líder do partido, primeiro-ministro, e que, quando estas são postas em causa, um breve raspanete chega para se atropelarem regulamentos e resultados eleitorais? Não.
A doença assim revelada por este incidente é muito mais grave: no congresso do PSD ninguém está disponível para se empenhar na discussão das políticas do partido, sem antes ter ganho a batalha da luta pelos lugares no partido. Varia é a forma de como lá chegar - se através de negociações de bastidores numa sala de delegados que traficam apoios, se pela campanha direta junto dos militantes.
Esse carreirismo partidário é o cancro, não exclusivo do PSD, que há mais de 30 anos mina de morte os partidos do poder. Fatal.
Passos lá terá dito para os seus botões,porque raio estes gajos jovens vêm para aqui chatear o Tio Pedro e não tratam de emigrar como lhes sugeri?
EliminarA coisa está feia,ou lá se está!
Maus ventos se avizinham,clama Pedro incomodado.Acima,acima gajeiro,diz-me se vês a salvação da troika no horizonte,logo eu que ainda não tive tempo de me governar e el-rei Zé Povo,já me quer deserdar.
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