sábado, 24 de setembro de 2011

O Jardim da Madeira e a Madeira de Jardim, por João Valdoleiros

Todos quantos já tiverem o privilégio de visitar a Ilha da Madeira, acabam conquistados pela franca simpatia e sincera hospitalidade das suas gentes, verdadeiros representantes do saber receber os seus visitantes, enamorados também das suas belezas naturais, das suas flores e da sua sobrevivente floresta, única, de Laurissilva (considerada pela Unesco em 1999,como Património da Humanidade, do seu sui generis folclore, do seu artesanato, da sua típica gastronomia e, porque não, aquando da habitual subida turística ao Pico do Areeiro (mais de 1.800 metros de altitude, com o respectivo frio), da toma quase simbólica da tradicional “poncha”para aquecer ou, do seu “verdelho”,vinho da região, de mérito reconhecido internacionalmente. 

O Funchal com o seu casario espraiando-se ao longo das encostas, dispondo-se em cascata aos nossos olhos é a pérola maior desta jóia, que é a Ilha da Madeira. 

Santana da Serra, com as suas características casas de arquitectura artesanal, deixam-nos também na memória da nossa retina, imagens únicas e inesquecíveis, para quem aprecia o conhecimento da história cultural dos nossos avós. 

Cabo Girão ,Porto Moniz, Ribeira Brava, Câmara de Lobos, Machico e o badalado Curral das Freiras, povoação com um curioso passado histórico, localizada num profundo pequeno vale rodeado de escarpas montanhosas – afirma-se mesmo que se localiza na boca dum antigo e há muito extinto vulcão – que tornam o seu acesso uma quase aventura. 

E muito mais teria para descrever as belezas únicas deste jardim a que se designou chamar Madeira. 

Falemos então agora da outra Madeira, da Madeira de Jardim. 

Os Madeirenses poderão e deverão estar gratos a Alberto João Jardim, se nos lembrarmos quanto evoluiu a Madeira em infra-estruturas rodoviárias, portuárias, etc., fruto duma fortíssima aposta política nas obras públicas, naquela política tão contestada em Portugal pelo PSD, durante o governo de Sócrates e do Partido Socialista. 

E aqui começo a questionar e a questionar-me. 

Esteve e estará correcta a política de Alberto João Jardim no capítulo de grandes investimentos em grandiosas obras públicas, que mudaram radicalmente a face e a qualidade de vida, nitidamente para melhor, dos Madeirenses ? 

Para mim, a única resposta óbvia é a afirmativa. 

Mas Alberto João Jardim não deverá ser responsabilizado por este brutal desvio de mais de 5 mil milhões de euros, nas Finanças da Madeira? 

Para mim, a única resposta óbvia é a afirmativa. 

À primeira vista pareço entrar em contradição, não, de modo algum. Estarei sempre de acordo com uma política de investimentos públicos de grande volume financeiro, desde que as entidades envolvidas prestem esclarecimentos devidos aos cidadãos, através dos órgãos próprios, Tribunal de Contas, Banco de Portugal, de que dispõe a Democracia representativa e participativa. 

Aqui é que o Jardim da Madeira, falhou e falhou redondamente, convencido que o seu ditatorial controlo sobre o PSD nacional, sobre a Imprensa Regional e até de alguma Imprensa Nacional, sobre a própria Presidência da República (o homem até é Conselheiro de Estado e o presidente um homem do PSD, que conviveu quanto baste com ele), se manteria ad eternum. 

Não, não batam palmas a Passos Coelho, não o elogiem na sua aparente postura de exigir a Jardim a “explicação” de tal buraco financeiro nas contas da Madeira. É que, mesmo aos melhores, as contas às vezes saem erradas e muito. Um e outro, ou seja, Alberto João Jardim e Passos Coelho, em especial este último, nunca pensaram que a “armadilha”, que montaram a Sócrates, lhes trouxesse uma carga de trabalhos. 

Como todos nos recordamos, Passos Coelho acolitado por tudo, ou quase tudo, quanto eram figuras de maior ou menor prestígio do PSD (até no Marco) e apoiado pela postura colaboracionista do Senhor Presidente da República (quedo e mudo, mais quedo que mudo – recorde-se a afirmação no seu discurso de tomada de posse, que a crise era nacional), não descansou enquanto junto de todas as instâncias financeiras internacionais ( Banca , Agências de rating ) não conseguiu a quase total descredibilização do governo de Sócrates. 

Em consequência deste tipo de oposição política irresponsável, aqueles que acompanharam o evoluir da crise internacional e portuguesa, depressa puderam apreciar a evolução da subida em flecha das taxas de juros e a descida aos “infernos” das taxas de rating das agências financeiras. 

E muito poderíamos dissertar sobre esta polémica. 

Regressemos então ao Jardim da Madeira. 

Confirmado que está pelo próprio AJJ, o “colossal desvio” de 5 mil milhões de euros nas contas do jardim da Madeira, e recordando-nos das qualificações da mais variada ordem atribuídas a Sócrates, por tudo quanto eram comentadores televisivos pagos por nós, críticos de opinião, economistas de 2ª e 3ª apanha e por figuras de elevado prestígio e, parece que merecido respeito nas hostes do PSD, por exemplo, a Dra. Manuela Ferreira Leite, ficaremos a aguardar se tais personagens recuperarão do súbito ataque de surdez desencadeado pelo ruidoso silêncio, que se faz à volta deste “incidente”, quase diria vulcânico, na bela Ilha da Madeira. 

Para os mais distraídos, ou para aqueles, que porventura possam dar-se à curiosidade de ler este meu arrazoado, informarei que não houve mesmo qualquer incidente vulcânico, apenas uns “sobressaltos” provocados pela troika,que puseram a descoberto o buraco financeiro da Madeira do Jardim, tendo sido a maior “vítima” o Jardim da Madeira. 

João Valdoleiros

3 comentários:

  1. Na minha opinião é que todo este dinheiro foi mal gasto.

    Eu visitei pela primeira vez a Madeira com os meus pais, a minha ex-mulher e o meu filho mais velho à cerca de 20 anos.

    Apreciei muito do que o meu pai descreve da Madeira e dos Madeirenses, mas logo achei ridículo alguns investimentos, tais como criar uma auto-estrada com pouco mais de 1 ou 2 kilómetros só para Jardim dizer que tinha inaugurado uma auto-estrada na Madeira.

    Comecei também a perceber que se começavam a nascer empreendimentos turísticos de descareterizavam a beleza daquela ilha. Lembrei-me logo como era a Quarteira que conheci pela primeira vez nos anos 70 e no que ela se tornou.

    E recordo-me perfeitamente de pensar que se a Madeira seguisse esse caminho perderia o encanto e por arrasto a capacidade de atrair um turismo de qualidade. É preceiso ter consciência que a Madeira não tem praias, nem um excelente clima, e além do potencial turístico resta-lhe a fama do vinho da Madeira, das suas flores e pouco mais que seja concorrencial no mundo actual.

    Há poucos anos regressei, porque fui convidado por um fornecedor, durante uns dias a essa ilha.

    Continuei encantado com os Madeirenses, cujo único erro que lhes aponto é serem ingénuos e acreditarem em AJJ. Até tive direito a uma apresentação de um AJJ mais polido do que o costume, dado que a audiência era de empresários e não dos ingénuos Madeirenses.

    Agora sobre a Madeira que revi fiquei totalmente desiludido.

    Estive num excelente hotel, mas para isso não precisava de ter ido à Madeira. Percorri a Madeira por boas vias rodoviárias, mas a paisagem era idêntica a qualquer subúrbio de uma das nossas cidades do continente. As paisagens que me tinham encantado passaram a ser banais, a cidade pitoresca passou a ser uma cidade igual às outras e praticamente só um pequeno passeio de jeep a um lugar mais remoto me entusiasmou. Por azar meu ate isso correu mal pois apanhamos uma enxurrada inesperada e "subornamos" o condutor para nos indicar um bom bar para bebermos umas ponchas porque da Madeira que eu conhecia já pouco havia para admirar.

    Voltarei lá um dia?

    Talvez não. O encanto da minha primeira ida à Madeira perdeu-se nesta última viagem.

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  2. Permita que sugira a disponibilização do Editorial da Revista Sábado "A conivência com a Madeira".

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  3. Excelente texto, de uma "acutilância elegante" (termo de Antero de Quental, um outro ilhéu, mas dos Açores), forma de escrita que aprecio, embora eu não a pratique, mas que toca, com imenso rigor, o cerne das questões.
    Ainda bem que no Marco existe quem "escreva a política" desta maneira. Fico feliz por tal.

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