segunda-feira, 28 de março de 2011

159 Anos

Nos inícios do século XIX o território que hoje constitui o concelho do Marco de Canaveses encontrava-se dividido pelas comarcas de Penafiel e do Porto, nele se integrando já todas as freguesias que actualmente o traçam, à excepção de três – Alpendorada e Matos, Banho e Carvalhosa, Várzea de Ovelha e Aliviada – as quais foram posteriormente anexadas e fundidas, duas a duas, uma vez que, tal como os nomes duplos assim o indicam, as mesmas correspondiam originariamente a seis freguesias distintas. O mesmo território englobava oito antigos concelhos (Gouveia, Porto Carrero, Canaveses, Tuías, Tabuado, Soalhães, Vila Boa do Bispo e Bem Viver) e uma dezena de freguesias dispersas por outros três.

A divisão administrativa adoptada a partir de 1835 estabeleceu a integração da região “marcoense” na província do Douro e no distrito do Porto. À explosão de plena emancipação de antigos pequenos concelhos observada no breve período que sucedeu a Revolução de 1820 seguiu-se, em 1836, um reordenamento mais racional do espaço administrativo concelhio, que dissolveu muitos desses municípios cuja ausência de condições não possibilitava a recém-adquirida autonomia.

Ainda mediante publicação no Diário das Cortes de 16 de Janeiro de 1836, ao primitivo concelho de Soalhães foram acrescentados dois municípios vizinhos, para o efeito suprimidos, que passaram a integrá-lo – Canaveses e Tuías, resultando desta anexação o concelho do Marco de Soalhães.

Refira-se que as reuniões da Câmara de Soalhães se realizaram, pelo menos a partir de 1845, no lugar do Marco, pequena povoação situada no vértice formado pelos limites das freguesias de Fornos, Canaveses e Tuías. O nome deve-se à existência de um pequeno marco de pedra que assinalava o local. Nele se realizavam as feiras municipais mais importantes da região, e, aproveitando-se os dias de realização das mesmas, efectuavam-se aí as sessões camarárias.

A 31 de Março de 1852 é publicado no Diário das Cortes o decreto de D. Maria II que desmembra os concelhos de Bem Viver e de Soalhães e simultaneamente os unifica num só município que determina a fundação do concelho do Marco de Canaveses. Em 24 de Outubro de 1855 um novo decreto acrescenta ao município, tal como já foi referido, 4 freguesias originárias de Santa Cruz de Riba Tâmega: Constance, Banho e Carvalhosa, Sto. Isidoro e Toutosa, o que proporcionou ao Marco de Canaveses a circunscrição territorial e administrativa que actualmente o constitui.

Desde estas últimas alterações administrativas que farão respectivamente 159 anos dia 31 de Março e 156 anos dia 24 de Outubro nenhuma outra alteração de assinalar foi realizada.

Mas de facto a população deste município mudou muito. Inicialmente assentava as suas bases de subsistência na ruralidade, dada fertilidade dos solos. Os lavradores, proprietários ou “caseiros”, recrutavam nas famílias mais desfavorecidas os “criados”, por vezes apenas a troco de sustento alimentar, auxiliavam nas tarefas domésticas e campesinas.

Aqueles que desejavam fugir à escassez económica a que estavam sujeitos, ou os agricultores que se pretendiam libertar da dureza do trabalho agrícola, decidiam-se pela emigração para o Brasil.

Até meados do século passado, e ainda mesmo na década de 60, continuou a ser um espaço predominantemente rural. Além do vinho, os cereais eram dos produtos que mais se cultivavam nas freguesias concelhias, e, com o objectivo da sua preparação até ao resultado final, duas fábricas de moagem laboravam desde os anos 20 junto à estação de caminho-de-ferro, um meio de locomoção que possibilitava a exportação dos produtos aqui realizados para o Porto. A criação de gado adquiriu uma expressão acentuada e de destaque no espaço circundante constituído pelos concelhos que lhe são fronteiriços. Mas os laços estabelecidos entre proprietários e arrendatários continuavam a manifestar desigualdades entre um grupo social e o outro.

Na década de 60 houve uma retracção da agricultura que terá tido origem em diversos factores de entre os quais se destacam a construção da barragem do Carrapatelo e o subsequente recrutamento de postos de trabalho, bem como o indubitável surto migratório que coincidiu também com este período. Quer para o Porto e para os seus subúrbios industrializados, quer para a emigração para outros países.

Além das indústrias correlacionadas com a agricultura, algumas artes se desenvolveram, tais como as tecedeiras, os alfaiates, a manufactura dos chapéus de palha, os sapateiros, etc…

Desenvolveu-se também a indústria extractiva e transformadora de pedra retirada dos solos graníticos.

Dada a economia predominantemente agrícola instituíram-se feiras, nas quais as populações se abasteciam dos produtos de que necessitavam. O comércio local era de reduzida escala e destinava-se apenas à satisfação das necessidades básicas dos residentes.

Na década de 70 existe uma quebra no número de emigrantes provocada pela crise europeia de inícios da década de 70, que juntamente com a chegada de retornados das colónias ultramarinas está na origem do elevado incremento da população nesta fase.

A crescente industrialização verificada nos anos 80 e a posterior criação de postos de trabalho resultantes da mesma justificam o aumento de população nos últimos anos do século XX.

Na mudança do século registou-se um forte alteração na economia do Município manifestada através da substituição do sector primário pelos secundário e terciário, o que acarretou uma transformação das estruturas da sociedade.

Acrescente-se a alteração por que passou o papel da mulher na sociedade local. Se, anteriormente, a mesma se limitava à execução das “lides domésticas”, participação em tarefas agrícolas específicas ou desempenho de uma arte no seio do próprio lar, ela passa agora a exercer uma profissão nas indústrias, no comércio e nos serviços.

E agora?

Se as várias crises porque a nossa região passou foram fundamentais para “marcar” as nossas características sociais parece-me evidente que a actual crise também deixará a sua “marca”.

Esta nossa crise tem uma origem mundial, e é devida também às decisões tomadas nas últimas dezenas de anos a nível nacional. Mas essencialmente é uma crise motivada por erros cometidos por aqueles que ainda que democraticamente eleitos tem gerido os destinos do nosso Município. Se estes tiverem uma capacidade de liderança e uma visão para o Marco do século XXI, eu acredito que os Marcoenses como Nós saberão, tal como no passado, dar uma resposta e ultrapassar a crise. Se estas qualidades continuarem a faltar aos nossos eleitos resta a solução do costume:

Migrar.

3 comentários:

  1. Li o post e aprendi bastante sobre o Concelho que, desde 2006, ccmeçou a ser o meu. Agradeço a lição de História e a reflexão. Marcoense continuarei (agora mais) a sentir-me.
    Por isso, estou grato !

    ResponderEliminar
  2. Excelente a lição de História do concelho do Marco de Canaveses aqui postada pelo Jorge Valdoleiros.
    Se mais não servir,poderá ser aproveitada por alguns detractores deste nosso amigo,que o têm acusado de ser menos Marcuense do que eles,para reflectirem sobre essas críticas e interiorizarem que ser Marcuense é muito mais que poder dizer,somente,que nasceram cá no burgo,sem mais obra feita.
    Os meus parabéns ao Jorge

    Miguel Fontes

    ResponderEliminar
  3. Agradeço os elogios mas o meu mérito reside em conseguir encontrar os melhores textos sobre o Marco, interpretá-los e com um pouco de Copy e Paste realizar um resumo dos mesmos e opinar um pouco sobre o que li (e também sobre o que vivi).

    ResponderEliminar