Vale a pena ler esta crónica de Daniel Oliveira intitulada “Cavaco Silva: o bom aluno do Estado Novo” sobre as declarações proferidas pelo “nosso” PR ao assinalar os cinquenta anos da Guerra Colonial.
Cavaco Silva deveria é ter recordado o país como é que os tais jovens há 50 anos (um deles o meu próprio pai) foram arrebanhados à força como “voluntários” para uma guerra inútil, injusta, estúpida, ilegítima, sem sentido, entre irmãos para defender um regime não democrático, ultrapassado e que nada dizia aos portugueses.
Eram a “carne para canhão” atirada para as profundezas de África sem muitas das vezes perceber qual era “missão” além de terem que defender os muitos interesses de muito poucos portugueses. Eram os anos em que os filhos do regime tinham oportunidade de fazer carreira nas esplanadas das principais cidades coloniais portuguesas, enquanto muitos escapavam à guerra fugindo às escondidas para o estrangeiro e a maioria não lhes restava outra hipótese senão de passar pelo menos dois anos arriscando a vida por quem não gostavam (e não vale a pena mandarem bocas porque eu estive lá e sei quem eram esses filhos do regime dos quais muitos ainda andam por aí).
A ironia é que foi a revolução de Salgueiro Maia e dos outros Capitães de Abril realizada contra essa Guerra Colonial que permitiu a este Cavaco Silva, que nunca foi capaz de comemorar o 25 de Abril de cravo ao peito, chegar ao mais alto cargo da República Portuguesa. E isto através de uma eleição democrática que esse regime nos negava.
Ironia é que também essa Guerra Colonial tenha tido à altura a oposição dos principais Sociais-Democratas Europeus e hoje alguém teoricamente social-democrata venha tomar uma posição destas publicamente.
Ironia é que estas palavras sejam dirigidas aos jovens de hoje que felizmente nunca tiveram que enfrentar o risco de uma guerra injusta unicamente pelo esforço daqueles que foram e são oposição a este Cavaco Silva.
De facto concordo com Daniel Oliveira quando este diz que Cavaco Silva é um bom aluno do Estado Novo. Mas ainda mais concordo com o próprio Cavaco Silva quando ele escreve que estava “integrado no actual regime político”, referindo-se ao Estado Novo, como se pode ler aqui.
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