quarta-feira, 31 de março de 2010

E mais uma vez a falarmos de corrupção

Corrupção é um assunto de que se fala muito, mas de que realmente ninguém quer falar. João Cravinho veio de Londres para dizer aqui que "a corrupção política está à solta", como se isso fosse uma grande novidade. Fez algumas "sugestões avulsas". Disse e bem que se devia "despartidarizar a administração pública e escolher dirigentes públicos pelo mérito e competência", nada que nós não soubéssemos. Falou de "manifestações de redes de tráfico de influência que desviam a administração dos seus objectivos últimos", nada que nós já não tenhamos sentido na pele. Classificou o actual estado das leis como um "problema de vontade política", o que muitos de nós já sabia e que facilmente poderia ser ultrapassado.

Mas não seria melhor para o país ter ficado cá em vez de ir para o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento?

A realidade é que existem a pequena corrupção, os pequenos favores, as cunhas, os pedidos, a utilização abusiva de apoios estatais ou de subsídios, o desprezo pelos bens públicos, as fugas aos impostos...

Tudo isto leva a que se instale um ambiente propício ao sucesso financeiro de muitos pequenos corruptos. Cria-se a noção de que quem rouba mas faz obra até é uma boa escolha. Defendemos os grandes corruptos porque são da nossa cor. E como corolário de tudo isto chegamos ao estado descrito por João Cravinho e outros.

Todos os dias acontecem denúncias de corrupção, como esta ou esta, que demoram anos a ser tratadas judicialmente. A maior parte das vezes o "acusado" acaba por ser "ilibado publicamente" por causa de um erro processual, ou porque um meio de prova não é válido na justiça, ou simplesmente porque o prazo para a realização do processo foi ultrapassado.

Está na nossa mão lutarmos para que isto tudo seja diferente, basta não irmos para "Londres" e ficarmos aqui a lutar para que Portugal se transforme num Estado de Direito.

2 comentários:

  1. Corrupção,meu caro Jorge Valdoleiros,é fenómeno contra o qual não há interesse em combater.
    Como sabe,recentemente a Comissão de Prevenção da Corrupção e Infracções Conexas,determinou que todas as organizações que recebessem e manipulassem dinheiros e valores públicos,deveriam criar um plano-tipo de prevenção e combate à corrupção.
    Como sabe,algumas das maiores instituições estatais,ainda muito recentemente não tinham apresentado os seus planos-tipo.
    A nossa autarquia apresentou atempadamente o seu plano-tipo,que sei ter sido discutido ligeiramente na Assembleia Municipal,dado o facto de esta assembleia ter apenas o direito a tomar conhecimento e não a discutir a sua formatação e elaboração.
    Depois,como se depreende,pouca gente se sente motivada a discutir estas questões que de tão generalizadas já são aceites como fazendo parte do dia a dia,da maioria de todos nós.
    Há para aí tantos telhados de vidro.Já viu o que pode acontecer,se alguém acaba por atirar a primeira pedra.
    A melhor atitude foi aquela que se viu na Assembleia por parte da maioria dos deputados.Mudos e quedos,não vá o Diabo tecê-las.

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  2. O problema é que o "sistema" já criou um conjunto de estruturas paralelas que não sendo estatais (ou totalmente estatais) não são obrigadas claramente às mesmas regras do Estado ainda que manipulem dinheiros públicos.
    E mais não digo.
    Para já.

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