As origens do mosteiro de Vila Boa do Bispo recuam aos derradeiros anos do século X ou primeiros da centúria seguinte. Entre 990 e 1022 (ou em 1008, como pretendem alguns autores, um primitivo cenóbio foi fundado por D. Mónio Viegas, o Gasco, cavaleiro francês que combateu al-Mansur e alcançou grande prestígio nesta secção relativamente interior de Riba-Douro. De 1022 é uma discutida inscrição (realizada em data posterior a essa data) na tampa de um sarcófago existente no claustro, que indica ter sido aquele o túmulo de D. Mónio e de dois dos seus filhos. O facto de se tratar de uma inscrição posterior à data efectivamente epigrafada, porém, levou Mário Barroca a equacionar a hipótese de se tratar de uma legenda do século XIII, eventualmente realizada por "algum descendente da linhagem dos Gascos em busca de prestígio social".
Até à segunda metade do século XII, a história deste Mosteiro está envolta em lendas e atribuições duvidosas. De acordo com antigas crónicas, existia uma inscrição de 1035, associada ao sarcófago do bispo portuense D. Sesnando, cujos restos mortais foram trasladados para a parede Sul do templo em 1142, por ordem de D. Pedro Rabaldes, outro prelado do Porto. No entanto, quer a indicação de 1035, quer a de 1142 (data que algumas crónicas indicam ter estado epigrafada numa pintura mural no local do túmulo) são de existência duvidosa e não podem ser aceites sem reserva.
A igreja que hoje subsiste data dos finais do século XII ou inícios do seguinte, à semelhança de uma grande parte do nosso Românico. Nessa altura, ter-se-á refeito integralmente o templo monacal, dotando-o de uma estrutura comum para a época, de nave única e capela-mor rectangular, esta última provavelmente abobadada e apresentando arcarias cegas no exterior.
É precisamente a existência de arcadas cegas - na fachada principal e não na capela-mor, esta entretanto muito adulterada - o principal motivo de interesse do edifício, uma vez que se trata de uma solução sem paralelo no nosso país. Conservam-se uma arcada inteira e o arranque de uma segunda, no lado Norte da fachada principal, sendo as aduelas decoradas por animais afrontados. A contextualização destas formas não é fácil e tem vindo a ser objecto de discussão. Parecem não restar grandes dúvidas acerca de uma ascendência francesa (eventualmente passando pela Galiza), mas a verdade é que encontramos aqui analogias com os primeiros ensaios românicos de Braga, de Rates e de Travanca, o que poderá recuar a datação do conjunto em mais de meio século.
Na Baixa Idade Média, vários foram os homens importantes que aqui se sepultaram. D. Júrio Geraldes, corregedor do rei para o entre-Douro-e-Minho, encomendou dois túmulos pela década de 60 do século XIV, um para si e outro para D. Nicolau Martins, que sucumbiu em 1348 à Peste Negra, realizações que se encontram, actualmente, inseridas em modernos arcossólios da parede Norte do corpo. Um terceiro túmulo, já do século XV e que se encontra adossado ao flanco exterior Sul, é de D. Salvado Pires.
As maiores transformações no conjunto ocorreram a partir da segunda metade do século XVII e até aos meados da centúria seguinte. Para além da radical transformação das áreas monacais, o templo foi objecto de uma vasta campanha de obras, onde se conta a refeitura quase integral da fachada principal (com novo portal e mais ampla iluminação) e a actualização estética do interior. A parte mais simbolicamente relevante foi tratada como uma igreja forrada a ouro, uma vez que o arco triunfal, o tecto da capela-mor e as paredes fundeiras da nave e capela foram revestidos por uma homogénea solução de talha dourada em associação a retábulos. Na parede Norte da nave ainda subsiste o púlpito e o varandim trapezoidal policromado, de onde os monges assistiam às cerimónias litúrgicas.
Como Marcuense interessado pelas coisas da sua terra, só posso estar muito grato ao leitor que colaborando com este blogue,nos disponibilizou a completa descrição histórica do Mosteiro-Igreja de Vila Boa do Bispo,uma das mais preciosas obras do Românico no nosso concelho.Bem haja,amigo leitor.
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