segunda-feira, 26 de abril de 2010

Revolução dos Cravos, por João Valdoleiros

Comemora-se hoje o golpe de Estado militar de 25 de Abril de 1974, que ficou conhecido na nossa história, como a Revolução dos Cravos, data esta, à qual mais tarde se viria a chamar o Dia da Liberdade.
Fazendo uma rápida resenha histórica dos acontecimentos ocorridos na época, verifica-se que a génese desta revolução teve, como causa primária, uma guerra colonial injusta para todas as partes envolvidas, que só trouxera lágrimas e luto pelas constantes perdas de vidas, que estropiara para sempre muitos dos nossos jovens e que consumira até então avultados meios financeiros para custear os seus encargos, delapidando ainda mais a débil economia do país.
Entenderam aqueles militares, os Capitães de Abril, que Portugal precisava de uma mudança de rumo, que o levasse até ao convívio das nações, ditas democráticas e desenvolvidas.

O mito do “orgulhosamente sós” teria que ser desmontado.

Aqueles militares de Abril, homens de rija têmpera e forte sentimento patriótico, sentiam como ninguém, dado que viviam os horrores da guerra e a sofriam na pele, que se impunha uma mudança de regime político, pois o país caminhava para o abismo, face à conjuntura política internacional, que na época já há muito colocara Portugal na cauda da Europa, fosse qual fosse o tipo de análise efectuada à vida dos Portugueses e de Portugal.
O nosso isolamento em relação à Europa e a muitas outras regiões do Mundo, era total, a falta e a recusa de apoios internacionais era uma constante. As condenações do regime ditatorial vigente, pelas mais altas instâncias, como a ONU e a Amnistia Internacional, eram frequentes. A própria Igreja em Portugal, veiculava através de alguns dos seus mais altos representantes, sérias dúvidas, se não mesmo certezas, sobre a justiça da guerra, dita “colonial”. Houve mesmo um acontecimento, que reportámos de grande significado político, quando muitos dos capelães militares se constituíram num núcleo de contestação à guerra.
Deveremos recordar e realçar também, a contribuição para a queda do regime ditatorial, embora de modo indirecto, dada por dois oficiais generais, altamente respeitados dentro das Forças Armadas. Refiro-me a António Spínola e Costa Gomes, fazendo sentir junto do poder ditatorial instalado, que o fim da guerra “colonial” e a consequente, paz, só poderia ser alcançada pela via do diálogo político e não pela força das armas, pese embora o argumento utilizado pelos militares afectos ao regime, de que nas três frentes activas do conflito, Angola estaria controlada, Moçambique em vias de controlo e a Guiné, reconhecidamente sem possibilidades de resolução.
Acabaram aqueles Capitães de Abril por se organizarem num movimento único, que designaram como o MFA – Movimento das Forças Armadas, inscrevendo como objectivos finais do seu movimento, a concretização daquilo, que designaram como a política dos 3 Dês:

Democracia, Descolonização e Desenvolvimento.

Hoje, todos podemos dizer, sem margem para dúvidas, que a Democracia está implantada, fortalece-se cada vez mais, dá-nos os seus frutos e que a ditadura de triste memória nunca mais voltará!

Quanto ao Desenvolvimento, ninguém que tenha vivido os tempos idos da ditadura, poderá contestar e deixar de reconhecer o enorme Progresso de que todos nós beneficiamos, nas mais diversas áreas de actividade, na Saúde, na Educação, na Justiça, no Apoio Social, nos Transportes, nas Vias de Comunicação, nas Comunicações, etc..
Alguém poderá pôr em causa que o direito à Cultura, à Educação, à Saúde, à Justiça e ao Apoio Social para todos, sejam conquistas do 25 de Abril de 74?
Alguém poderá pôr em causa que foi a Revolução dos Cravos que nos devolveu os valores da República, como a liberdade de expressão e de manifestação, a liberdade de reunião e associação, permitindo a legalização de sindicatos, de associações de estudantes e a formação de organizações de carácter partidário?
Para não falar já da extinção da Polícia Política, da abolição da Censura, da Libertação dos Presos Políticos, do fim das perseguições e prisão dos opositores do regime, do regresso dos nossos exilados políticos.
O direito de livre opinião, o direito de eleger e ser eleito, o direito ao Trabalho, a não discriminação da Mulher, o direito ao Bom-Nome.

Tudo isto só foi possível, graças à gesta dos Capitães de Abril!

Finalmente o D de Descolonização:
Será um lugar-comum dizer-se que foi a possível, face à conjuntura internacional na qual Portugal estava inserido. Podem vir agora os velhos do Restelo invocar que não foi uma descolonização exemplar, mas eu desafio que me provem o contrário.
Perante o isolamento internacional, em que até os nossos aliados nos abandonaram, deixando-nos numa situação tão precária, quanto grave.
Por tudo quanto significou para todos nós, o 25 de Abril, mais uma vez deveremos honrar a memória daqueles Capitães de Abril já falecidos e a todos os outros, agradecer profundamente, tudo quanto nos restituíram, em especial, o maior bem, a Liberdade.

Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal:

Não poderia terminar sem deixar de referir quanto o Partido Socialista se encontra extremamente agradado com as Comemorações do 25 de Abril de 1974 – Dia da Liberdade, desde a vigência da sua direcção à frente dos destinos da nossa Autarquia. Honra lhe seja feita e bem-haja pela sua disponibilidade e dedicação em defesa da causa da Liberdade.

PS: Este é o único discurso que chegou até ao MCN das comemorações do 25 do Abril em Marco de Canaveses , teremos muito gosto de divulgar qualquer uma das restantes intervenções.

3 comentários:

  1. Quando leio o que se escreve e dia por aí tenho pena que os Capitães de Abril não escolhessem um quarto “D”. Esse seria o “D” de Debate ou Discussão, mas no sentido positivo destas palavras.
    O sentido da troca de ideias, do aprofundamento de um assunto, da criação de uma polémica, e sobretudo na análise e troca de ideias sobre um assunto entre duas ou mais pessoas com o objectivo de chegar a um consenso.
    Depois do 25 de Abril falou-se apesar de tudo muito deste tema, e eu sempre gostei e fomentei este tipo de Discussão.
    Para quem não sabe o Dr. João Valdoleiros é meu pai, o Rui Valdoleiros é meu irmão, o Coronel José Valdoleiros é meu tio, o Dr. Hildeberto Valdoleiros é meu avô, e se juntarmos dois ou mais Valdoleiros destes ou de outros que não mencionei teremos de certeza discussão pela certa. Muita gente não nos percebe, primeiro porque damos tanta importância à discussão de qualquer tema, depois porque nunca nos zangamos por muita quente seja a discussão.
    O que está em causa é que a discussão ou o debate é um exercício intelectual e que é só válido se cada um dos intervenientes estiver envolvido com a disposição de apreender alguma coisa.
    É por isso que me custa muito ver em muitos locais desses mundos reais e virtuais muita gente que não sabe discutir. Copia e segue as ideias dominantes.
    Sem discussão e debate ainda éramos homens das cavernas.
    Afinal estava enganado e o “D” de Debate ou Discussão é o mesmo “D” de Desenvolvimento.

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  2. A semelhança do discurso proferido pelo Dr. João Valdoleiros, foram proferidos três outros dircusos de grande nível, a cargo do Dr. Filpe Baldaia, Dr. Zita e António Martinho. Todos estes dircusos estiveram ao nível de qualquer outro proferido na Assembleia da República.
    O mesmo não posso afirmar do discurso proferido pelo Dr. Manuel Moreira, que preferiu elencar, mais uma vez, a obra feita.

    Rodrigo Lopes

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  3. Será que Manuel Moreira ainda não se apercebeu que acaba por cair no ridículo ao fazer em todas as oportunidades o seu auto-elogio?
    Não haverá alguém dentro do P.S.D.,que tenha a coragem de lhe chamar a atenção?
    É que até junto da maioria dos Marcuenses,nos cafés,nas tertúlias,etc.,já se tecem críticas,algumas bem mordazes,ao repetitivo auto-elogio da sua obra e mesmo entre os seus pares,já se esboçam uns sorrizinhos discretos, nuns,e uma expressão facial de tolerância e condescendência,noutros.
    No nosso entendimento, Manuel Moreira,deveria deixar ao comum do cidadão-eleitor,a avaliação do mérito ou não,da sua obra à frente dos destinos da autarquia.
    Manuel Moreira, é bom que alguém da sua "entourage" lho faça saber,com esta atitude só revela uma de duas coisas.Ou uma personalidade com tiques de autismo,ou uma total insegurança definidora duma personalidade imatura.

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