sábado, 24 de abril de 2010

Um genuíno - John Cassavetes

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As relações humanas são a equação mais complexa que existe no Universo. Não há química, nem física nem matemática que explique as flutuações de humor, a conjugação de moléculas que provocam atracção ou repulsa. A obra de John Cassavetes fala disto tudo como mais nenhuma outra na história do Cinema. Era um realizador fascinado pelos actores, tanto que fez um filme, "Faces", de 1968, quase só constituído de grandes planos. De grandes planos e emoções extremas. Nada neste cinema é fácil e imediato. Tudo, desde o som aos movimentos dos actores, às situações em que estão as personagens é complexo. Como diz a determinada altura um destes personagens, passamos a vida a proteger-nos e a evitar ser vulneráveis, a comportar-nos mecanicamente e a fazer aquilo que é esperado de cada um de nós. Até que um fusível dispara e começamos a ser nós próprios, para cima ou para baixo. A realidade provoca comportamentos inesperados mas genuínos e é isso que Cassavetes filma.
Filmes que não servem para quem procura no cinema apenas diversão. Por aqui passa a realidade, mas em atitudes larger than life, que é mais ou menos o que todos andamos aqui a fazer, quando não estamos atrás das sombras que nos protegem. É disso mesmo que já se via em "Shadows" de 1959.
Mas para mim o mais relevante em Cassavetes é ser um realizador do seu tempo, que compreende os movimentos artísticos e sociais da sua época como poucos. A Música, do Jazz ao Rock, dos Blues ao Pop, reflectem o que se passa e ao mesmo tempo está tudo muito à frente. Só o glorioso preto-e-branco remete esta fabulosa estética noir de volta ao seu tempo.

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