domingo, 4 de abril de 2010

Onde é que estavas no 25 de Abril?

Recordo-me perfeitamente de acordar com o meu pai todo excitado a receber notícias do meu tio Manuel que era estudante de economia em Lisboa. Mesmo antes nos explicar o que se passava eu percebi que aqueles acontecimentos tinham a ver com as conversas que eu tinha assistido entre alguns dos militares que tinha conhecido em Moçambique, as conversas do meu tio que na altura era Capitão do exército, do meu tio que era estudante em Lisboa, as demissões de António de Spínola e Costa Gomes e vinha na sequência do golpe falhado de umas semanas antes.

A primeira parte do dia foi passado em tentar perceber melhor o que que se passava e era uma corrida entre a televisão e a rádio que pouco informavam, a “Vila” e a Escola Secundária. Encontrava-se muito menos gente nas ruas do que habitual, mas ficou-me a imagem de uma “personagem” que a meio da tarde ainda defendia que o governo iria por tudo na ordem, como no dia 16 de Março em que a tentativa de golpe falhou. Recordo que Marcelo Caetano só se rendeu às 19:30 no Quartel do Carmo.

Fiquei todo entusiasmado quando me apercebi que Spínola estava com os revoltosos, pois tinha lido o seu livro “Portugal e o Futuro” a meias com o meu pai e naqueles tempos era para mim um símbolo de esperança.

A mágoa que me fica desse dia é de não ter sentido o entusiasmo do povo pela libertação após tantos anos de opressão como se viu em Lisboa ou no Porto, ou mesmo em Penafiel.

PS: A fotografia é do dia 25 de Abril de 1974 em Penafiel

3 comentários:

  1. Desculpe-me a ousadia,meu caro amigo Jorge Valdoleiros,mas a sua família,desde o pai aos filhos e seus tios,eram uns "revolucionários" de primeira.
    Quer dizer,não precisam de colocar os seus curriculuns políticos nos blogues para se darem ares de democratas.Têm provas dadas e não andam constantemente a anunciá-las,não é?
    As suas vidas falam por eles,não é assim?
    Já lá vão muitos anos,era ainda jovem,mas recordo-me do seu pai dar a cara e intervir, logo no 1º de Maio de 74,num comício político
    efectuado em frente aos Paços do Concelho,como era então designado o edifício da nossa Autarquia Municipal.
    E comparando a postura de apoio franco e decidido à Revolução de Abril por parte do seu pai com a de tantos outros que hoje se dizem democratas,chego a sentir náuseas quando os vejo pretenderem assumir-se como exemplos a imitar.
    As minhas saudações democratas ao meu amigo Jorge Valdoleiros.extensíveis aos seus familiares.

    ResponderEliminar
  2. Obrigado, mas felizmente não somos os únicos.

    ResponderEliminar
  3. Eram umas 6-7 horas da manhã,quando acordei com a chamada telefónica há muito esperada.Tinhamos estabelecido um código,que dizia "rebentou a bomba".De imediato sintonizei o rádio portátil na antiga emissora nacional e pouco depois já ouvia os comunicados do Conselho da Revolução a anunciar que a Revolução dos Cravos estava na rua e a hora da libertação tinha chegado.
    Não mais parei de excitação,certo da vitória.
    Tinha feito a "guerra colonial" na companhia de certos capitães,mais tarde conhecidos pelos Capitães de Abril e reconheci logo a voz do porta-voz do Conselho da Revolução.
    Era o Capitão Castro,que pertencera ao meu batalhão e com quem conversei amiudadas vezes.
    Dava-se a curiosidade deste Capitão Castro ser filho dum funcionário da antiga C.P. cá no Marco e daí se ter criado uma crescente amizade entre os dois,pois era seu conterrâneo.
    Logo nesse dia inesquecível,o 25 de Abril de 1974,calcorreei as ruas do Marco dando vivas à Revolução.
    Não me recordo de outros tantos o terem feito e dizem-se hoje democratas e arautos do socialismo.
    Enquanto uns davam de imediato o seu apoio,outros resguardavam-se não fosse o regime dar a volta ao prego.

    ResponderEliminar