sábado, 2 de abril de 2011

A Crise, por António Ferreira

A crise em que vivemos não terá um único culpado mas, convenhamos que a rejeição do PEC IV terá dado um significativo contributo. Convêm recordar que inicialmente, como justificação para a rejeição do plano foi dito “… o novo pacote de medidas de austeridade como um “quadro típico de pedido de ajuda externo”. Os mesmos responsáveis acrescentaram que o PEC IV apresentava um conjunto de “novas medidas gravosas e extremamente injustas, …”. Mais tarde, em 28/03/2001, foi afirmado “a razão porque votámos contra esta revisão do PEC, não é porque ele vá longe demais nas medidas que é necessário assegurar para que os objectivos sejam atingidos. É porque ele não vai tão longe quanto devia”.

Na minha opinião os mercados financeiros lêem os jornais e reagem ao que por cá é dito e escrito. Assim, em 24/03/2001, “a Fitch cortou em dois níveis o ‘rating' de Portugal (…) o ‘downgrade' reflecte o aumento do risco de Portugal não conseguir adoptar medidas de consolidação orçamental depois do chumbo do PEC IV, ontem no Parlamento, e da demissão de José Sócrates logo a seguir”.

Uma semana depois é anunciado que, “o juro das Obrigações do Tesouro portuguesas a 10 anos atingiu hoje um novo máximo nos 8,01%, de acordo com dados da Reuters”. No mesmo dia, a S&P baixou a classificação do Santander Totta, CGD, BCP, BES e BPI e ameaça cortar, outra vez, o ‘rating’ de Portugal.

Hoje foi escrito que “o índice que mede a taxa cobrada pelos investidores para comprar obrigações do Tesouro (OT) portuguesas a 5 anos subiu até aos 9,040%. É o valor mais elevado desde pelo menos 1999, ano da adesão ao euro.”

Pelo meio alguém se atreveu a prever, provavelmente consultando as estrelas, que no dia a seguir ao chumbo do PEC IV, os mercados estabilizariam. Os factos demonstraram o contrário.

Recordo que num passado recente, um governo foi demitido depois de aprovado o OE, também agora, porque o PEC não ia tão longe como devia mas tinha a anuência de Bruxelas, deveria ter sido aprovado (sinal claro para o exterior) e, eventualmente, o governo ser sujeito a moção de censura ou de confiança, para tudo clarificar.

Para terminar, “Os portugueses esfregam os olhos e já têm dificuldades em acreditar em qualquer das diferentes versões da história da Carochinha que lhe contam. Caminhamos para um teatro político onde as palavras estão vazias de sentido. O PS transformou-se num partido com paredes de betão para escutar melhor as palavras de ordem de José Sócrates. No PSD, Pedro Passos Coelho saltita de opinião em opinião como se a política fosse um quadro impressionista. A política portuguesa tornou-se inexplicável”. (Fernando Sobral, A grande debandada, in Negócios Online).

Não se pode falar em esperança, exigem-se medidas concretas que, envolvendo todos, permitam reverter esta situação.

Só com esperança não vamos lá, sozinhos também não!

2 comentários:

  1. Crise,qual crise,caro António Ferreira?
    Aquilo a que ultimamente se chama crise não passa duma farsa bem montada pelos senhores do capital.
    Crise sofrem-na os desempregados de longa duração,os jovens à procura do primeiro emprego,os pensionistas que vêem o valor das suas pensões congelado ou até reduzido,os idosos que cada vez mais se sentem "lixo" da sociedade,os doentes que já não têm acesso a certos tratamentos mais dispendiosos,os muitos Portugueses que não têm um simples médico de família,os outros tantos que esperam e desesperam por justiça.
    Essa sim,é a verdadeira crise,provocada por uma total perda dos valores de humanidade,de civismo e da moral.
    Num Mundo controlado pelo Capital,o Homem não passa de "matéria-prima" para alimentar a gula desses senhores,daqueles que tudo fazem para subir na sociedade,não pelas provas dadas no seu trabalho sério e honesto,não pela sua capacidade de inteligência,não pela verticalidade do seu carácter,mas sim pela exploração desenfreada do seu semelhante,valendo todos os argumentos para alcançar os seus abjectos fins.
    Como alguém me ensinou na minha juventude,"para grandes males,grandes remédios" e a Humanidade que somos a maioria(como diria Eça,excluo daquela,essa choldra ignóbil),vamos preparar-lhes o "tratamento".

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  2. Caro Miguel Fontes,
    Émile Durkheim, ao definir "fatos sociais", de alguma forma, antecipa a resposta aos problemas que hoje afetam a sociedade. Os fatos sociais são relações sociais exteriores aos indivíduos e possuem um poder coercitivo, que se impõe ao individuo, independentemente da sua vontade.

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