terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Ídolos

Ao domingo à noite não perco um programa de entretenimento na SIC chamado "Ídolos". Nele jovens talentos para a música tentam a sua sorte e ganhar um estágio numa escola de Londres. É uma tarefa difícil, pois de cerca de 8000 iniciais restaram 15 finalistas que semana a semana dão o seu melhor para convencer o júri e o público. Assistir a este espectáculo é também uma forma de revisitar o passado e relembrar o sonho que eu e outros miúdos acalentavamos: ser músicos.
Naquele tempo poucos eram os modos de passar o tempo, a jogar à bola, aos "cowboys" na mata do Casal e mais tarde a namoriscar, ainda que esta tarefa nada era facilitada pelos constrangimenos naturais da época. Assim, o piano que estava no consultório do meu pai era um refúgio natural para tardes de ensaios à volta de acordes simples, por vezes com ritmo e acompanhados pelo que restava uma bateria dos velhos bombeiros, com a curiosidade de um prato de choque de pedal, um bombo enorme ao qual atado estava um prato e uma caixa de bolachas, das que eram de metal e imitava uma tarola.
Lembrando tudo isso, assisti ontem a um belo momento de televisão quando a concorrente Diana interpretou o tema "E depois do adeus", com música de José Calvário, letra de José Niza e cantado originalmente por Paulo Carvalho. Foi soberbo. O tom intimista, a emoção e a garra colocada numa canção mítica para Portugal, marca da revolução, de um cantor hoje quase esquecido que se tivesse nascido nos EUA seria uma estrela, certamente.
A par disto veio à memória o tempo em que se ouvia a Rádio Argel e a BBC, ambas em onda curta, as conversas em família de Marcelo Caetano e a Luísa Orvalho a proclamar, no dia 25 de Abril, que não havia aulas porque tinha havido um golpe de Estado.
Vi ontem, revi hoje e comovi-me. Estou a ficar velho.

1 comentário:

  1. Meu caro Dr.Artur Melo, o senhor com o seu post veio avivar na minha memória factos passados,que me deixaram gratas recordações.Não eram meu hábito as idas para a desaparecida Quinta do Casal jogar aos cow-boys,mas o meu amigo fala em jogar à bola e então ...que pelejas travadas na velha alameda do Hospital,com botas bem encebadas,de solaria de pneu,com o plantel que estivesse mais à mão,com regras de muda de campo aos 5 e acaba aos 10.Bons tempos,sem a agora poluição do nosso Marco,sem a Guarda a chatear,livres como passarinhos,cimentando amizades para todo o sempre com mais ou menos caneladas.Um abraço.

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