terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Regimento

Por ser de um geração que começou na política muito cedo e sempre habituado a discussões muito acaloradas e sem nenhumas restrições regimentais, estávamos a gozar o direito à nossa opinião pela primeira vez em muitos anos, estranho os debates que existem nas várias assembleias deste país.

Existem poucos intervenientes, as discussões estão sempre limitadas, e de facto a maioria consegue "calar" as opiniões discordantes. Mesmo aqueles que teriam bons argumentos a colocar se questionam se vale a pena perder o seu latim, pois as maiorias rodeiam-se por volta dos seus chefes e falam a só uma voz. E, sobretudo no poder local, os próprios eleitos interrogam-se se vale a pena atacar aqueles que detêm o poder. Existem sempre umas "bocas" de aviso à navegação.

Para perceber melhor estas sessões li o regimento. Percebi logo as limitações várias que as minorias tem no nosso sistema "democrático". O tempo útil para debate é sempre controlado e até posso aplaudir António Coutinho que é bastante flexível nas contagens dos tempos. Os vereadores da oposição só falam se o presidente deixar. Não é se a Assembleia deixar, é se o presidente do executivo deixar, e quando deixa faz sentir a todos que é com a sua permissão. Lá estamos com a mania da "realeza".

Mais espantado fico quando alguns "iluminados" sugerem que este e aquele deveriam ter falado. É interessante porque no seu tempo não era assim.

4 comentários:

  1. Será que vale a pena falar,meu caro amigo Jorge Valdoleiros.Pelo que me contam, aquela Assembleia mais parece uma tertúlia onde se "abraçam os saudosos amigos",onde se batem uns papos para saber das novas do burgo,onde se faz um pouco de ginástica(de vez em quando levanta-se um braço,mas só um de cada vez para evitar esforços exagerados),mastigam-se umas coisas para mexer os queixos (é melhor do que falar e só dizer asneiras),enfim,uma anedota total.
    Até acredito que os raros senhores deputados, que estão lá por amor à coisa pública, se sintam deslocados naquele ambiente,mas terão que ser pacientes,porque isto de exercer a cidadania é uma chatice.
    A "Monarquia" é que está dar,sempre se apanham umas migalhas que caem da mesa de "Sua Magestade".Pudera que não.
    E depois,à falta de vida noturna cá no burgo, todas as ocasiões para "confraternizar" são poucas.

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  2. Moreira não é político. Moreira é um actor. Moreira é um ventríloquo. O espectáculo está-lhe nas veias, corre-lhe no sangue. Moreira viciou-se no palco, no teleponto, nas multidões, nos discursos. Moreira não se ouve, faz-se ouvir. Seja pela incomodativa gargalhada, seja pela acentuação dos sons agudos, seja pela retumbante vibração das cordas vocais, seja pelo vibrante murro na mesa. É por isso que Moreira prepara parcimoniosamente, ao espelho, cada reunião da assembleia municipal, medindo os gestos, a pose, experimentando gravatas e outros adereços, e exigindo aos seus "deputados" que sejam figurantes de uma tragicomédia, a qual, de forma só aparentemente inocente, é radiofundida pela estação de António Coutinho.

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  3. Permita-me Carlos Ruelva,tratá-lo por amigo, antes por um Marcoense como nós.A sua análise do "Artista" é quase,quase,quase perfeita.Teve apenas um pequeno lapso.Definiu e bem,o actor principal,os actores secundários e olvidou os "cenografistas".Não,não é aquilo que está a pensar.Tá ver,meu amigo,são aqueles que vão às sessões da Assembleia e não só, para mandar calar o público,que ousa perturbar com o seu ruído, a "ária" do Pavarotti cá do burgo.

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  4. A sua réplica, Observador amigo, obriga-me, por educação, a retribuir-lhe iguais palavras panegíricas e hospitaleiras. E sinto-me impelido a confessar-lhe que eu sou geneticamente, totalmente e excessivamente Marcoense. E confidencio-lhe também que fui condenado por este poder municipal despótico, opressor, cego e virulento a prisão domiciliária, autorizado apenas a deslocar-me, com pulseira electrónica, de minha casa ao domicílio profissional. Sou, assim, um “exilado” numa amarga peregrinação na minha própria terra. Mas a História ensinou-me que não há tirania que perdure e que, depois de iniciada, mais próxima estará do fim. Oxalá V. Ex.ª e os Marcoenses como Nós possam brevemente respirar uma nova alvorada de Abril!

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